Antropometria
CONCEITO
É
a ciência relacionada às dimensões do corpo humano e a relação que
existe entre os diversos segmentos corporais (ângulos entre os
segmentos das articulações). As dimensões antropométricas estão diretamente
envolvidas com ALCANCES MOTORES
e POSTURAS de um indivíduo.
OBJETIVOS
DA ANTROPOMETRIA
Para
que as dimensões dos segmentos corporais e dos ângulos entre estes segmentos
são levantadas?
Por
que é importante conhecer as diferenças dimensionais existentes entre uma
população?
Vamos
responder a tais questões fazendo uso, inicialmente, de um exemplo. Vamos supor
que numa linha de produção, com 100
postos de trabalho, encontramos operários e operárias. As bancadas de
trabalho são fixas (sempre a mesma altura, sempre a mesma profundidade, etc.) e
as cadeiras usadas são do mesmo fabricante, todas iguais.
A
população de trabalhadores, contudo, é DIFERENTE.
Um homem de 25 anos de idade, 1,85 de altura e 90 quilos de peso trabalha ao
lado de uma mulher com 40 anos de idade, 1,52 de altura e 54 quilos de peso. Os
dois devem trabalhar sentados, alcançar
os mesmos objetos e montá-los. Depois, devem colocar o objeto já montado
numa única esteira que passa acima
da bancada, numa altura padronizada em toda a linha de montagem.
Observando-se
as duas pessoas trabalhando, podemos observar vários problemas e diferenças:
1- enquanto o homem não apresenta a menor dificuldade
em alcançar o fundo da bancada, onde se localizam algumas peças em caixas
plásticas, a mulher necessita debruçar o tronco à frente, esticando o braço para
atingir tal região;
2- o homem apoia facilmente os pés no piso da área. A
mulher, para conseguir tal postura, senta na ponta da cadeira, afastando
a região lombar do encosto;
3- para colocar uma peça na esteira rolante, o homem
levanta levemente o antebraço e alcança a esteira. Para fazer o mesmo, a mulher
tem que esticar todo o braço;
4- ao levantar da cadeira, o homem necessita de
cuidados, pois pode bater a cabeça numa estrutura de tubulações e bandejas
elétricas existentes na área. Com a mulher isto não acontece;
5- o espaço existente abaixo do tampo da bancada é
apertado para as pernas do homem, cujos joelhos esbarram numa cantoneira.
Isto, contudo, não ocorre com a mulher;
6- a largura do assento da cadeira, usada pelo homem,
possui dimensões adequadas. A mulher, quando sentada, sente que a borda lateral
do assento pressiona a face
posterior das coxas e nádegas, o que lhe dá uma sensação de “aperto”.
Obviamente os exemplos continuariam. Contudo, já esclarecem um fator dimensional importantíssimo relacionado ao posto de trabalho: Os componentes do posto (cadeira, bancada, prateleiras, piso, teto, etc.) são FIXOS e isto é traduzido por uma inadequação em relação às dimensões corporais dos trabalhadores, pois estas últimas variam de trabalhador para trabalhador.
Portanto, podemos
concluir nossa linha de raciocínio, afirmando o seguinte:
A ANTROPOMETRIA estuda as dimensões do corpo humano e as diferenças dimensionais
apresentadas por uma população de trabalhadores, a fim de projetar POSTOS DE TRABALHO que atendam às
necessidades posturais de pelo menos 90% da população estudada.
E estes os postos, para que atendam às necessidades
posturais TANTO dos HOMENS, QUANTO das MULHERES,
precisam de FLEXIBILIDADE em
seus componentes. Esta característica é que atenderá cada necessidade postural
do indivíduo, segundo suas dimensões corporais.
Vejamos a situação da
mulher, exemplificada acima.
Quando a área de produção foi projetada, não se LEVOU
EM CONSIDERAÇÃO que a POPULAÇÃO DE TRABALHADORES apresenta DIMENSÕES CORPORAIS DIFERENTES, pois não existe um
OPERÁRIO PADRÃO. Podemos considerar, por exemplo, que todos que trabalham na
linha de montagem têm 1,75 de altura? Claro que não, e é isto que
verifica-se com a operária do exemplo anterior. Veja:
1-
a cadeira não possui regulagens da
altura de assento. Uma altura padronizada foi fixada, como se o
tamanho das pernas de TODOS OS OPERÁRIOS fosse igual. Assim, a operária,
que tem pernas pequenas, se vê numa situação difícil, pois a cadeira que usa
foi especificada para ser usada por um HOMEM
de 1,75 de altura;
2-
o encosto da cadeira torna-se inútil,
pois a operária sente a necessidade de apoiar os pés no piso da área, para que
tenha uma movimentação mais facilitada de seu corpo. Contudo, para apoiar os
pés, a operária tem que posicionar a cintura pélvica mais á frente, AFASTANDO A REGIÃO LOMBAR DO ENCOSTO,
que passa a NÃO SER USADO (perceba,
o encosto é, agora, INÚTIL);
3-
o braço é esticado por que quando a
esteira ia ser implantada na área, um HOMEM foi sentado na cadeira e pediram
para que ele levantasse o antebraço até uma altura aparentemente confortável, o
que realmente ocorreu. O HOMEM
achou que estava ótimo e a esteira foi ali posicionada, mas ninguém perguntou a
alguma MULHER se o alcance
era compatível com as suas dimensões.
Mas
será que apenas esta diferença influencia o arranjo dimensional dos postos de
trabalho? Não, pois há outros fatores a serem considerados:
-
a idade do trabalhador. Quanto mais
idoso, menos mobilidade terá o corpo do indivíduo, pela própria degeneração que
se verifica nos tecidos, articulações e na própria coluna vertebral;
-
a região onde nasceu o trabalhador.
Compare um homem nascido no Sul do país com aquele que nasceu no Nordeste e as
diferenças antropométricas ficarão bastante acentuadas;
-
o poder aquisitivo do trabalhador.
Quanto mais pobre, pior a alimentação e, por conseqüência da subnutrição,
alterações nas dimensões corporais são verificadas;
-
a roupa usada no desenvolver dos
trabalhos e os EPI’s (Equipamentos
de Proteção Individual). Um capacete altera a estatura do trabalhador. Uma luva
dificulta os movimentos de precisão, pois diminui o tato, sem falar que o
diâmetro do dedo aumenta.
O
POSTO DE TRABALHO FLEXÍVEL
Uma cadeira ergonômica é
um bom exemplo de posto de trabalho flexível, pois apresenta regulagens de
altura, de inclinação, o assento é giratório, locomove-se sobre rodízios,
facilitando a movimentação da pessoa que está sentada.
Contudo, certos
equipamentos de grande porte impossibilitam a colocação de plataformas ou
superfícies de trabalho com regulagens
individuais, como os grandes painéis de controle. As próprias bancadas de
trabalho onde correm linhas de montagem, com dezenas de metros de comprimento,
tornariam a produção entrecortada e dificultada, caso cada trabalhador
alterasse a altura e a profundidade do tampo, conforme sua vontade.
Entretanto, sabe-se que
uma única medida padronizada resulta na inadequação postural de inúmeros
trabalhadores. O que fazer nestas situações?
Geralmente quando o
projetista (engenheiro ou arquiteto) se defronta com tal realidade, opta por
levantar a MÉDIA das
dimensões antropométricas da população de trabalhadores, iludindo-se por um conceito muito difundido, ou seja: se adotar as
medidas da MÉDIA, atenderá a maioria dos trabalhadores, o que resulta em grave erro projetual.
Tal ilusão é justificada
em função dos projetos que, por muito tempo, vieram do exterior e foram
implantados na indústria brasileira, que os comprova em “PACOTES FECHADOS”. Lá
no exterior, principalmente em países europeus de área geográfica limitada e
POPULAÇÃO HOMOGÊNEA, a MÉDIA ANTROPOMÉTRICA é um hábito e é corretamente
aplicada em projetos.
Entretanto, tal realidade é inaplicável no BRASIL, pois já vimos as características das dimensões corporais do povo brasileiro, uma verdadeira mistura de raças. Em nosso país, para atender às necessidades dimensionais de 90% da população de trabalhadores, devemos aplicar as medidas MÍNIMAS ou MÁXIMAS obtidas no levantamento antropométrico efetuado na empresa, segundo alguns conceitos a serem respeitados.
EXEMPLO: Na linha de
montagem acima citada, homens e mulheres devem trabalhar em postura sentada,
defronte uma bancada onde
montam peças. Após um levantamento antropométrico, as medidas dos
segmentos corporais foram
organizadas numa tabela.
Observa-se
que para o projeto da bancada em questão, mais o banco adotado, foram
consideradas algumas medidas mínimas
e outras máximas. Isto se deve ao
fato de que a população envolvida possui alguns indivíduos com segmentos
corporais pequenos e outros com
segmentos grandes.
Só
que todos farão uso do posto
de trabalho, portanto este último precisa adequar-se a toda população e não apenas a alguns usuários.
Como
podemos observar na tabela a seguir, as medidas
mínimas equivalem ao chamado PERCENTIL
5% da população de usuários e as máximas
ao PERCENTIL 95%.
TABELA
MEDIDAS DE
|
CRITÉRIO
|
MULHERES
|
HOMENS
|
||||
ANTROPOMETRIA
|
MEDIDA
|
||||||
ESTÁTICA (cm)
|
MIN.
|
MAX.
|
5%
|
95%
|
5%
|
95%
|
ADOTADA
|
A. Estatura
|
X
|
151,0
|
172,5
|
162,9
|
184,1
|
184,1
|
|
B. Altura da cabeça sentado
|
X
|
80,5
|
91,4
|
84,9
|
96,2
|
96,2
|
|
C. Largura das pernas
|
X
|
11,8
|
17,3
|
11,7
|
15,7
|
17,3
|
|
D. Altura do assento
|
X
|
35,1
|
43,4
|
39,9
|
48,0
|
48,0
|
|
E. Comprimento antebraço
|
X
|
29,2
|
36,4
|
32,7
|
38,9
|
29,2
|
|
F. Comprimento braço
|
X
|
61,6
|
76,2
|
66,2
|
78,7
|
61,6
|
|
Vamos
entender o que é PERCENTIL: quando
vemos uma medida de um segmento corporal na coluna de 5% da tabela acima, isto significa que apenas 5% da população de
trabalhadores medidos têm a medida daquele segmento menor que a população toda.
Do mesmo modo, se consultarmos a tabela na coluna de 95%, isto significa que apenas 5% da população de trabalhadores têm a medida daquele segmento maior que a população toda.
CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DOS POSTOS DE TRABALHO
Analisemos
uma das medidas constantes na tabela, como a medida F (comprimento do braço). No posto de Trabalho, adotou-se a medida mínima, para que todos os trabalhadores tivessem a profundidade do tampo da bancada
adequada ao tamanho do braço, principalmente levando-se em consideração a menor
dimensão (61,6 cm .).
Já
no caso da estatura (medida A),
levou-se em consideração a medida máxima,
ou seja, a população masculina de maior estatura, para que ao levantar-se da
cadeira, os indivíduos mais altos não batessem a cabeça no teto da área. Como
se observa, nenhuma das medidas da tabela adotou a MÉDIA ANTROPOMÉTRICA.
Lembremos
que estes conceitos de medidas mínimas e máximas são aplicáveis para postos fixos. O melhor, contudo, é
adotar mobiliário e equipamento que seja flexível,
dotado de múltiplas regulagens, como
as cadeiras ergonômicas, bancos de automóveis e carrinhos hidráulicos, sempre
que possível.
A - Cadeira ergonômica, com regulagens de altura e inclinação do assento e
encosto, giratória, ajuste para a altura dos braços (que podem ser removidos,
caso se queira) e rodízios para facilitar a locomoção.
B – Carrinho com plataforma
hidráulica de altura regulável, facilitando o alcance da mão do trabalhador
à carga transportada, sem ter que se debruçar sobre a plataforma.
C – Comandos altos, numa
prensa, dificultando o alcance das mãos do trabalhador. Lembrar que os braços
acima da linha dos ombros dificultam a circulação de sangue, provocam tensão
muscular e dor (ALCANCE MOTOR INADEQUADO), bem como o ALCANCE VISUAL dos
comandos está acima da linha de visão do trabalhador (fazendo com que este
levante a cabeça).
D – Comandos na altura adequada,
numa prensa, facilitando o alcance das mãos do trabalhador, bem como o alcance
visual.
Bem, podemos responder
às perguntas do início da aula: as medidas e ângulos do corpo humano devem ser
levantadas e organizadas, para que se possa dimensionar cada posto de trabalho
em conformidade com a população da empresa em que se está atuando. Só assim os
mobiliários, veículos, máquinas, painéis, bancadas, etc. estarão se adaptando
ao ser humano.
Um
exemplo da falta de aplicação da antropometria é visível nesta bancada de
testes para Eletricista:
Observe como os
conhecimentos adquiridos nas aulas anteriores são aplicáveis com esta simples
situação de trabalho:
-
A banqueta tem
assento em madeira = as tuberosidades isquiáticas estão “gritando”, pois não há
qualquer revestimento macio (em espuma);
-
O apoio para os
pés não existe, apenas o da banqueta = os pés são obrigados a permanecer numa
única posição;
-
As borneiras
localizadas ao fundo da área de teste estão em alcance máximo = o Eletricista,
para que alcance as borneiras, deve esticar os braços e, ainda, deslocar o
tronco do encosto da banqueta. Em antropometria, nunca o alcance motor de um
fundo de bancada que é muito usado poderia ser aceito em tal profundidade;
-
Os músculos ao
redor da coluna vertebral ficam tensos = dor;
-
As gavetas da
bancada (para ferramentas) obstruem o espaço lateral das pernas, apesar da
banqueta ser giratória (não dá quase para girá-la...). Seria melhor um
gaveteiro móvel ou um carrinho e a retirada das gavetas.
Outro exemplo: um setor de revisão de bobinas de motores elétricos.
-
A banqueta desta
vez é estofada, mas o Eletricista não a usa...não dá (não há espaço para as
pernas quando se senta defronte à bobina) = trabalho constante em pé;
-
Os cavaletes
usados para se apoiar a bobina não têm regulagem de altura = o Eletricista se
abaixa para ver o que está fazendo e alcançar os contatos a serem refeitos:
aqui, várias são as conseqüências:
· cervical, dorsal e lombar em flexão = dor;
· trabalho constante em pé = mais dor para a lombar e
dificuldade para circulação venosa nas pernas (carga hemodinâmica);
· repare que a articulação do carpo constantemente fica
em desvio ulnar, além de prono-supinações = risco de DORT;
· os braços trabalham sem apoio, mas em área de alcance
ótimo (que, neste caso, não adianta nada...) = risco de DORT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário