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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Noções Básicas de Anatomia e Fisiologia Identificação das Limitações do Organismo Humano-1

Noções Básicas de Anatomia e Fisiologia Identificação das Limitações do Organismo Humano-1





Sabendo-se que a Ergonomia tem por objetivo adequar o trabalho às características do homem, sejam físicas, sejam psíquicas, é necessário ter-se conhecimentos mínimos de como nosso organismo funciona e quais são as limitações do nosso corpo, para que se possam desenvolver projetos que correspondam a tais características.

Através de conhecimentos de Anatomia e Fisiologia, compreenderemos o porquê de algumas das reações adversas no organismo humano.

- A Anatomia estuda a localização dos órgãos de nosso corpo, bem como lhes dá uma terminologia adequada, conforme tal localização.

- Já a Fisiologia estuda como funcionam os órgãos e qual a relação de interdependência de cada órgão com os sistemas que compõem o organismo humano.

O Ergonomista possui conhecimentos mais voltados aos Sistemas Locomotores (ossos, músculos, tendões, tecidos) e Sangüíneo (artérias, veias e capilares).

SISTEMA LOCOMOTOR

Subdividiremos o estudo de tal sistema em Esquelético e Músculo-Ligamentar. O primeiro representa a estrutura de sustentação de todo o corpo, tanto como base à movimentação, quanto para proteger órgãos vitais. O segundo possibilita justamente os movimentos do corpo e a força aplicada nos diversos segmentos, bem como a velocidade e precisão de tais movimentos.

Sistema Esquelético

A título de organização do estudo deste sistema, o mesmo pode ser dividido em três partes fundamentais: Cabeça, Tronco e Membros, a saber:

- a cabeça, na extremidade superior do esqueleto, sustentada pela coluna vertebral;
- o tronco, na região central do corpo, abrangendo a coluna vertebral e as costelas;
- os membros, superiores e inferiores, compreendendo, acima, os braços, antebraços, punhos e mãos e, abaixo, as pernas e pés;
- as cinturas, escapular (acima) e pélvica (abaixo).

Das partes acima descritas, algumas merecem destaque para o estudo e aplicação da Ergonomia, em função das posturas adotadas por nosso organismo, quando em atividade.

1) COLUNA VERTEBRAL

A coluna vertebral é uma estrutura flexível composta por 33 vértebras, localizadas em quatro regiões distintas, a saber (de cima p/baixo): Região Cervical, Região Toráxica ou Dorsal, Região Lombar e Região Sacro-coccigeana. Também verificam-se as curvaturas que a coluna vertebral apresenta, quando vista lateralmente: A Lordose Cervical, a Cifose Dorsal e a Lordose Lombar.


CURVATURA - CERVICAL – LORDOSE



CURVATURA ƒ - DORSAL – CIFOSE



CURVATURA - LOMBAR – LORDOSE



CURVATURA  - SACROCOCIGEANA

Entre as vértebras, observa-se uma articulação cartilaginosa, conhecida como DISCO INTERVERTEBRAL. A Ilustração 2, representada por uma perspectiva, nos dá uma visão do disco sobre uma vértebra, subdividido em duas partes: um NÚCLEO PULPOSO (N) e os ANÉIS FIBROSOS (A)



Uma das características da coluna vertebral é a sua grande mobilidade demonstram esta característica, com a flexão da coluna (esquerda) e a flexão e extensão específicas da região cervical:

1.A) LIMITAÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL

O amortecimento das pressões exercidas sobre cada vértebra, que forma o conjunto da COLUNA VERTEBRAL, é desempenhado essencialmente pelos núcleos pulposos (NP’s), que distribuem radialmente a pressão recebida. Veja a Ilustração 2, acima.

Isto equivale a dizer que o núcleo, que se encontra dentro dos anéis, tende sempre a aumentar seu diâmetro quando recebe a carga de cima para baixo, fazendo pressão sobre as paredes dos anéis que o envolvem, enquanto diminui de altura.

A - Núcleo entre vértebras em situação de repouso

B - Núcleo entre vértebras em situação de carga incidindo sobre a coluna

Ocorre que o disco intervertebral apresenta uma degeneração natural que se acentua a partir dos 20 anos de idade, época em que as artérias que alimentam a região da coluna vertebral começam a se fechar, interrompendo a vaso-irrigação e sua alimentação.

Assim, o disco passa a receber alimentação de líquidos nutrientes que se encontram na região à sua volta, principalmente aqueles que permanecem no tecido esponjoso que reveste as faces superiores e inferiores dos corpos vertebrais.

Contudo, claro está que quando a coluna recebe uma carga sobre o conjunto de vértebras, o líquido é expulso da região na qual se encontra naturalmente, dada a pressão ali concentrada.
O comportamento é similar a uma esponja.

Tal fato é muito importante, vez que pressionada, a coluna vertebral não se alimenta e que tal situação facilita ainda mais a degeneração dos discos intervertebrais. Sem alimentação, a característica fibro-elástica destes tende a diminuir, o que inicia um processo de rompimento das paredes dos anéis que envolvem o N P, toda vez que este tenta se deslocar de sua origem. 

Como já vimos a coluna é composta por 33 vértebras, cada uma apoiada sobre um disco que está sobre a vértebra imediatamente abaixo. Esta característica possibilita a todo o conjunto uma mobilidade extraordinária, dentro de limites impostos pela própria estrutura anatômica de cada região da coluna.

A mobilidade do conjunto, entretanto, representa não apenas flexibilidade útil para desenvolvê-lo de inúmeras tarefas efetuadas pelo ser humano, mas alguns riscos à região da coluna vertebral, como agora observaremos.

Como se viu, os discos degeneram com o passar do tempo, perdendo a elasticidade necessária. Com isto, a capacidade de amortecer pressões diminui e há uma tendência do NP extravasar-se da região central que originalmente ocupa.

Tal situação é agravada ainda mais quando a coluna vertebral sai da posição em que suas curvaturas naturais são alteradas (como quando nos abaixamos para pegar algo que está no chão, mantendo as pernas eretas e a coluna “dobrada”
Nesta postura, os N P são arremessados para trás (região posterior do corpo), pressionando os anéis desta região. Quanto mais esta postura se repete, mais e mais os anéis são pressionados. A Ilustração 5 também serve para demonstrar este princípio, pois se a cabeça ficar abaixada, as vértebras cervicais ficarão sob tal condição.

1.B) DOENÇAS DA COLUNA

A. PROTUSÃO INTRADISCAL

A protusão intradiscal é um problema grave. Ocorre quando a postura acima detalhada se repete com freqüência nas atividades rotineiras de um trabalhador ou mesmo quando eventuais, mas nos indivíduos que já apresentam degeneração nos discos intervertebrais.

Caracteriza-se pelo fato do núcleo pulposo ser constantemente empurrado para trás, rompendo os anéis fibrosos que o envolvem, um por um, até chegar na região periférica do disco. Esta região passa a apresentar um volume mais acentuado, pressionando um ligamento que corre de cima a baixo na coluna, o Ligamento Posterior. Terminações nervosas aí localizadas provocam fortes dores no indivíduo, acompanhadas de espasmos musculares. É possível ver uma protusão na Ilustração 3, no lado direito do disco.


B. HÉRNIA DE DISCO

A hérnia de disco é um problema ainda mais grave que a protusão intradiscal. Na hérnia, o NP, após ter rompido todos os anéis, consegue extravasar-se de dentro do anel e sai do disco intervertebral, empurrando os tecidos da região, pressionando-os (veja a Ilustração 6, abaixo). Esta lesão se verifica mais na região lombar, principalmente quando o indivíduo flexiona o tronco para erguer cargas (hérnia posterior) e quando o rotacional lateralmente, movimentando a carga da direita para a esquerda, por exemplo (hérnia póstero-lateral). É possível ver uma hérnia pressionando uma terminação nervosa na Ilustração 3, no lado esquerdo do disco.


Hérnia de disco póstero-lateral nos dá uma visão do progresso dos sinais clínicos, à medida em que o trabalhador vai sofrendo uma protusão, hérnia e a invasão do material do N P na medula:


0 – Disco saudável                                        1 – Protusão póstero lateral direita

2 – Hérnia póstero-lateral direita pressionando         3 - Hérnia póstero-lateral direita invasiva
                                           medula                                                        à medula



C. BICO DE PAPAGAIO

É uma lesão derivada da hérnia de disco e muito mais grave. Caracteriza-se pela formação de protuberâncias ósseas nas paredes externas do corpo da vértebra, mais precisamente em locais onde há contato de um corpo de vértebra com outro, ocasião em que os dois entram em atrito.

Este contato entre uma vértebra e a outra se dá pela ausência do Núcleo Pulposo no disco intervertebral, já herniado (extravasado).

O tecido ósseo, quando submetido a pressões concentradas em determinados pontos, inicia um processo de multiplicação de suas células, formando um CALO ÓSSEO. Tal processo verifica-se como uma reação de defesa do tecido ósseo, mas traz o inconveniente de produzir, quando não controlada, a calcificação indesejada de protuberâncias (chamadas de osteófitos), resultando em problemas graves de coluna.

Na vértebra, o tecido vai ficando mais denso na região central do corpo, empurrando os tecidos vizinhos, até chegar na periferia do corpo, onde se formam as protuberâncias. Veja a Ilustração 8, a seguir.

Um esclarecimento importante se faz presente: tanto a hérnia do disco quanto o bico de papagaio, por poderem pressionar nervos, podem produzir dores que se estendem às pernas, a chamada dor ciática (ver item D, a seguir).


D. DOR CIÁTICA

É uma das conseqüências mais comuns dos problemas anteriores. A dor ciática se dá a partir da pressão que o núcleo pulposo herniado ou o osteófito fazem sobre o conjunto de raízes nervosas que formam o nervo ciático. Estas raízes saem do espaço existente entre as vértebras L4 e L5 (ou seja, quarta vértebra lombar e quinta vértebra lombar) e S1 (primeira vértebra sacral). Também pode surgir dor proveniente das raízes que formam o nervo femoral, provenientes dos espaços entre L2 e L3. A Ilustração 9 permite uma visão destas duas situações:

 
2. ORIENTAÇÃO POSTURAL

Uma das obrigatoriedades estabelecidas pelo governo, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, é a de que as empresas devem dar orientação postural aos seus funcionários, para que evitem doenças de coluna. Tal obrigação está na NR 17 – Ergonomia, conforme o item 17.2.3:

“17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes”.

O Setor de Segurança do trabalho da empresa deve programar palestras orientativas quanto a tal aspecto, informando aos trabalhadores os tipos de doenças que podem vir a adquirir, caso não respeitem ao procedimento de levantamento de cargas com flexão das pernas (correto), pois costumam fazer o contrário, ou seja, flexionam o tronco (errado).


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