Noções Básicas de Anatomia e Fisiologia Identificação
das Limitações do Organismo Humano-1
Sabendo-se
que a Ergonomia tem por objetivo adequar o trabalho às características do
homem, sejam físicas, sejam psíquicas, é necessário ter-se conhecimentos
mínimos de como nosso organismo funciona e quais são as limitações do nosso
corpo, para que se possam desenvolver projetos que correspondam a tais
características.
Através
de conhecimentos de Anatomia e Fisiologia, compreenderemos o porquê de
algumas das reações adversas no organismo humano.
- A Anatomia estuda a localização dos órgãos de nosso corpo, bem como lhes dá uma terminologia adequada, conforme tal localização.
- Já a Fisiologia estuda como funcionam os órgãos e qual a relação de interdependência de cada órgão com os sistemas que compõem o organismo humano.
- A Anatomia estuda a localização dos órgãos de nosso corpo, bem como lhes dá uma terminologia adequada, conforme tal localização.
- Já a Fisiologia estuda como funcionam os órgãos e qual a relação de interdependência de cada órgão com os sistemas que compõem o organismo humano.
O
Ergonomista possui conhecimentos mais voltados aos Sistemas Locomotores (ossos,
músculos, tendões, tecidos) e Sangüíneo
(artérias, veias e capilares).
SISTEMA LOCOMOTOR
Subdividiremos
o estudo de tal sistema em Esquelético e Músculo-Ligamentar. O primeiro
representa a estrutura de sustentação de todo o corpo, tanto como base à
movimentação, quanto para proteger órgãos vitais. O segundo possibilita
justamente os movimentos do corpo e a força aplicada nos diversos segmentos,
bem como a velocidade e precisão de tais movimentos.
Sistema
Esquelético
A
título de organização do estudo deste sistema, o mesmo pode ser dividido em
três partes fundamentais: Cabeça, Tronco e Membros, a saber:
-
a cabeça, na extremidade superior do esqueleto, sustentada pela coluna
vertebral;
-
o tronco, na região central do corpo, abrangendo a coluna vertebral e as
costelas;
-
os membros, superiores e inferiores, compreendendo, acima, os braços,
antebraços, punhos e mãos e, abaixo, as pernas e pés;
-
as cinturas, escapular (acima) e pélvica (abaixo).
Das
partes acima descritas, algumas merecem destaque para o estudo e aplicação da
Ergonomia, em função das posturas adotadas por nosso organismo, quando em
atividade.
1) COLUNA VERTEBRAL
A
coluna vertebral é uma estrutura flexível composta por 33 vértebras,
localizadas em quatro regiões distintas, a saber (de cima p/baixo): Região
Cervical, Região Toráxica ou Dorsal, Região Lombar e Região Sacro-coccigeana.
Também verificam-se as curvaturas que a coluna vertebral apresenta, quando
vista lateralmente: A Lordose Cervical, a Cifose Dorsal e a Lordose Lombar.
CURVATURA - CERVICAL – LORDOSE
CURVATURA - DORSAL – CIFOSE
CURVATURA - LOMBAR – LORDOSE
CURVATURA
- SACROCOCIGEANA
Uma
das características da coluna vertebral é a sua grande mobilidade demonstram esta característica, com a flexão da coluna (esquerda) e a
flexão e extensão específicas da região cervical:
1.A) LIMITAÇÕES
DA COLUNA VERTEBRAL
O
amortecimento das pressões exercidas sobre cada vértebra, que forma o conjunto
da COLUNA VERTEBRAL, é desempenhado essencialmente pelos núcleos pulposos (NP’s), que distribuem radialmente a
pressão recebida. Veja a Ilustração 2, acima.
Isto
equivale a dizer que o núcleo, que se encontra dentro dos anéis, tende sempre a
aumentar seu diâmetro quando recebe
a carga de cima para baixo, fazendo
pressão sobre as paredes dos anéis que o envolvem, enquanto diminui de altura.
A - Núcleo entre vértebras em
situação de repouso
B - Núcleo entre vértebras em
situação de carga incidindo sobre a coluna
Ocorre que o disco intervertebral
apresenta uma degeneração natural
que se acentua a partir dos 20 anos de
idade, época em que as artérias que alimentam a região da coluna vertebral
começam a se fechar, interrompendo a vaso-irrigação e sua alimentação.
Assim, o disco passa a receber
alimentação de líquidos nutrientes que se encontram na região à sua volta,
principalmente aqueles que permanecem no tecido esponjoso que reveste as faces
superiores e inferiores dos corpos vertebrais.
Contudo, claro está que quando
a coluna recebe uma carga sobre o conjunto de vértebras, o líquido é expulso da região na qual se encontra naturalmente, dada
a pressão ali concentrada.
O comportamento é similar a uma
esponja.
Tal fato é muito importante,
vez que pressionada, a coluna
vertebral não se alimenta e que tal
situação facilita ainda mais a
degeneração dos discos intervertebrais. Sem alimentação, a característica
fibro-elástica destes tende a diminuir, o que inicia um processo de rompimento das
paredes dos anéis que envolvem o N P, toda vez que este tenta se
deslocar de sua origem.
Como já vimos a coluna é
composta por 33 vértebras, cada uma apoiada sobre um disco que está sobre a
vértebra imediatamente abaixo. Esta característica possibilita a todo o conjunto
uma mobilidade extraordinária, dentro de limites impostos pela própria
estrutura anatômica de cada região da coluna.
A mobilidade do conjunto,
entretanto, representa não apenas flexibilidade útil para desenvolvê-lo de
inúmeras tarefas efetuadas pelo ser humano, mas alguns riscos à região da coluna vertebral, como agora observaremos.
Como se viu, os discos
degeneram com o passar do tempo, perdendo a elasticidade necessária. Com isto,
a capacidade de amortecer pressões diminui e há uma tendência do NP
extravasar-se da região central que originalmente ocupa.
Tal situação
é agravada ainda mais quando a coluna
vertebral sai da posição em que suas
curvaturas naturais são alteradas (como quando nos abaixamos para pegar
algo que está no chão, mantendo as pernas eretas e a coluna “dobrada”
Nesta postura, os N P são arremessados para trás (região
posterior do corpo), pressionando os anéis desta região. Quanto mais
esta postura se repete, mais e mais os anéis são pressionados. A Ilustração
5 também serve para demonstrar este princípio, pois se a cabeça ficar
abaixada, as vértebras cervicais ficarão sob tal condição.
1.B) DOENÇAS DA COLUNA
A.
PROTUSÃO INTRADISCAL
A
protusão intradiscal é um problema grave.
Ocorre quando a postura acima detalhada se repete com freqüência nas atividades
rotineiras de um trabalhador ou mesmo quando eventuais, mas nos indivíduos que
já apresentam degeneração nos discos intervertebrais.
Caracteriza-se
pelo fato do núcleo pulposo ser constantemente empurrado para trás,
rompendo os anéis fibrosos que o envolvem, um por um, até chegar na região
periférica do disco. Esta região passa a apresentar um volume mais acentuado,
pressionando um ligamento que corre de cima a baixo na coluna, o Ligamento
Posterior. Terminações nervosas aí localizadas provocam fortes dores no
indivíduo, acompanhadas de espasmos musculares. É possível ver uma protusão na Ilustração
3, no lado direito do disco.
B.
HÉRNIA DE DISCO
A
hérnia de disco é um problema ainda mais
grave que a protusão intradiscal. Na hérnia, o NP, após ter rompido todos
os anéis, consegue extravasar-se de dentro do anel e sai do disco intervertebral, empurrando os tecidos da região,
pressionando-os (veja a Ilustração 6, abaixo). Esta lesão se verifica mais
na região lombar, principalmente
quando o indivíduo flexiona o tronco
para erguer cargas (hérnia posterior) e quando o rotacional lateralmente, movimentando a carga da direita para a
esquerda, por exemplo (hérnia póstero-lateral). É possível ver uma hérnia
pressionando uma terminação nervosa na Ilustração 3, no lado esquerdo do
disco.
Hérnia de disco póstero-lateral nos dá uma visão do progresso dos sinais clínicos, à
medida em que o trabalhador vai sofrendo uma protusão, hérnia e a invasão do
material do N P na medula:
0
– Disco saudável 1
– Protusão póstero lateral direita
2
– Hérnia póstero-lateral direita pressionando 3
- Hérnia póstero-lateral direita invasiva
medula à medula
C.
BICO DE PAPAGAIO
É
uma lesão derivada da hérnia de disco e muito
mais grave. Caracteriza-se pela formação de protuberâncias ósseas nas paredes externas do corpo da vértebra,
mais precisamente em locais onde há contato de um corpo de vértebra com outro,
ocasião em que os dois entram em atrito.
Este
contato entre uma vértebra e a outra se dá pela ausência do Núcleo Pulposo no
disco intervertebral, já herniado (extravasado).
O
tecido ósseo, quando submetido a pressões concentradas em determinados pontos,
inicia um processo de multiplicação de suas células, formando um CALO ÓSSEO. Tal processo verifica-se
como uma reação de defesa do tecido ósseo, mas traz o inconveniente de
produzir, quando não controlada, a calcificação indesejada de protuberâncias
(chamadas de osteófitos), resultando
em problemas graves de coluna.
Na
vértebra, o tecido vai ficando mais denso na região central do corpo, empurrando
os tecidos vizinhos, até chegar na periferia do corpo, onde se formam as
protuberâncias. Veja a Ilustração 8, a seguir.
Um
esclarecimento importante se faz presente: tanto a hérnia do disco quanto o
bico de papagaio, por poderem pressionar nervos, podem produzir dores que se
estendem às pernas, a chamada dor ciática (ver item D, a seguir).
D.
DOR CIÁTICA
É
uma das conseqüências mais comuns dos problemas anteriores. A dor ciática se dá
a partir da pressão que o núcleo pulposo herniado ou o osteófito fazem sobre o
conjunto de raízes nervosas que formam o nervo ciático. Estas raízes saem do
espaço existente entre as vértebras L4 e L5 (ou seja, quarta vértebra lombar e
quinta vértebra lombar) e S1 (primeira vértebra sacral). Também pode surgir dor
proveniente das raízes que formam o nervo femoral, provenientes dos espaços
entre L2 e L3. A Ilustração 9 permite uma visão destas duas situações:
2.
ORIENTAÇÃO POSTURAL
Uma
das obrigatoriedades estabelecidas pelo governo, por meio do Ministério do
Trabalho e Emprego, é a de que as empresas devem dar orientação postural
aos seus funcionários, para que evitem doenças de coluna. Tal obrigação está na
NR 17 – Ergonomia, conforme o item 17.2.3:
“17.2.3. Todo trabalhador designado para o
transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento
ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar
com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes”.
O
Setor de Segurança do trabalho da empresa deve programar palestras orientativas
quanto a tal aspecto, informando aos trabalhadores os tipos de doenças que podem
vir a adquirir, caso não respeitem ao procedimento de levantamento de cargas
com flexão das pernas (correto), pois costumam fazer o contrário, ou seja,
flexionam o tronco (errado).
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